DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

DEMOCRACIA REPRESENTATIVA 
Artigo para publicação no Jornal ZH. Não lembro se o foi.
Em tempo de eleições merece ser reconsiderado o conceito de “democracia representativa” – designação usada para nossa forma de governo. Em epidemiologia e estatística usa-se uma “amostra representativa” quando não se pode ou não se deseja examinar todo o universo. Entretanto, no processo de seleção, para que a amostra não perca sua representatividade, deve refletir as características de toda a população. Examinando o grupo menor escolhido deve ser possível vislumbrar o todo. A participação direta e individual de cada cidadão no governo é impossível, e por isso escolhemos nossos representantes. Se os dois conceitos se aproximam algumas perguntas se impõem: será que existe tanta safadeza na população brasileira? Tanta desonestidade e falta de ética? Será que a corrupção, a mentira, a irresponsabilidade e o “faz de conta que não vi”, podem ser extrapolados para o país todo? Obviamente, é possível que a coleção de falcatruas e roubos denunciados desde que se fala em eleições seja uma nova estratégia de propaganda para sensibilizar eleitores, equivalente àquela muito antiga de protelar e guardar recursos para despejá-los na véspera. A memória coletiva é relativamente curta para certos fatos e facilmente se sensibiliza com o herói de última hora. A desonestidade com a coisa pública se tornou um argumento muito forte contra o continuísmo, ainda mais depois de se dizer que o mau comportamento denunciado era prática corrente e tolerável entre nossos representantes. A importância do tema pode bem ser observada na freqüência de promessas de segurança e honestidade nos discursos dos candidatos. As conseqüências são as mesmas no assalto a mão armada, no seqüestro e no acesso ilegal ao dinheiro público através de negociatas, medidas legislativas ou caixa dois. Há algo muito errado em tudo isso: ou nossa democracia não se exerce através de uma amostra representativa da população, ou gente honesta que ainda acredita em valores éticos deve se considerar como desviante da média nacional. Problemas existem, basta ver as discrepâncias entre nosso potencial natural, nosso capital humano, nosso 14ª lugar na economia mundial, e a 63ª posição no indicador de desenvolvimento humano, aliada ao título de um dos recordistas mundiais em desigualdade social. Eleições democráticas existem para se conseguir uma amostra de cidadãos responsáveis por decisões legislativas e executivas que atendam as necessidades de toda a população e ajudem a preparar um caminho para o desenvolvimento humano. Depois de uma boa escolha, é preciso manter uma vigilância continuada. A imunidade parlamentar traz apenas privilégios na justiça, mas não evita o contágio da corrupção. Sem colaboração continuada e cobrança dos eleitores a democracia facilmente deixa de ser representativa.

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